Saturday, December 8, 2007

Rádio

1 - Nós estamos com problemas de dinheiro e tu foste comprar um rádio?
2 - Era algo que tinha de fazer.
1 - Como assim era algo que tinhas de fazer? Tu comes rádios agora? Eles trazem-te alimento? Protegem-te do frio? Dão-te dinheiro?
2 - O que é que queres que diga? Era algo que senti que tinha que fazer e não me arrependo disso, nem um segundo.
1 - Quando é que vais parar de gastar dinheiro nestas coisas supérfluas? Assim nunca vais chegar a lado nenhum, assim nunca vais conseguir superar as dificuldades que surgem na vida.
2- Dificuldades que surgem na vida? Eu nasci no meio desta merda! Não me venhas dizer que não vou a lado nenhum como se eu tivesse as manias das grandezas! Eu sei muito bem que não vou lado nenhum. Desde o primeiro dia, eu sei muito bem isso. Sinto-o nos ossos, como se estivesse gravado na merda do meu código genético. O que é supérfluo para ti, é o meu suporte vital, o que me dá vida. Se eu não tivesse a música, eu não estava aqui. Achas que é fácil para mim estar todo dia a fazer algo que não gosto, voltar para casa e ver que não tenho nada, não tenho amigos, não tenho uma vida, algo que me faça sorrir? A primeira coisa que eu faço quando chego a casa é ter um contacto directo com a realidade, uma realidade muito mais negra do que aquela onde estou enfiado todo dia no emprego de merda que tenho. Eu não posso fugir a isso!! Já tentei e não consigo, ok? Por mais que tente, volta sempre a mim, para me bater, para gritar comigo enquanto eu estou no chão a sangrar. Nunca ninguém me veio socorrer, nunca ninguém me protegeu enquanto eu sangrava. Apenas a música me salvou porque leva-me para longe daqui, longe desta merda toda.
1 - É o que queres? Viver numa ilusão?
2 - Antes isso do que morrer na realidade!! Não aguento sem a música, sem o oxigénio que me dá. Se tiver que passar fome para ter esse oxigénio, então vou passar. Porque eu estou farto da realidade, a realidade não fez um caralho por mim. Nada! Música é tudo o que tenho, é tudo que tenho. É a minha amiga, minha confidente, está sempre lá, basta ligar o botão, está sempre lá. Onde estava a minha família quando eu levava porrada de todos? Onde estavam os meus amigos? Quem são eles? Onde estão eles que não os vejo?! Onde?! Cada vez que me tento levantar, sou outra vez derrubado, mas não vejo ninguém ajudar-me! Sempre a empurrar para baixo, quanto mais tento ir para cima. Sempre para baixo, sempre para baixo, sempre para baixo e eu quero me levantar e não consigo. Não consigo!! Onde estão eles?!!
1 - ...
2 - Este rádio é meu amigo. Está sempre presente. Sempre. Quando não aguento a dor, ele compreende-me, quando eu quero rir, ele ri-se comigo. É mais do que posso dizer de muita gente que me rodeia. Não te preocupes, eu não vou fugir da realidade. Como já te disse, não consigo. Não há nenhuma ilusão assim tão longe. Por isso deixa-me em paz, deixa-me estar com o meu amigo, porque hoje eu preciso de um. Hoje eu preciso de um. Alguém presente. Só quero alguém presente. Alguém que me compreenda sem eu ter de explicar. Apenas a música pode fazer isso, mais ninguém consegue.

Friday, November 23, 2007

Mãe

1 - Eu não aguento mais, mãe. Sei que me consideras ainda o teu menino, sei que me queres proteger de tudo, mas eu sofro. Eu sangro. Quero andar para trás, quero voltar atrás. Ao teu colo, ao teu ventre. Protegido, dentro de ti. Protege-me, mãe. Não deixes eles chegarem a mim, não deixes que eles me infectem. Eu não sou assim, mãe. Eu sou o teu filho, puro, perfeito. Mas eles não querem que seja assim, eles forçam-me a errar e festejam os meus erros. Não quero estar aqui, mãe. Quero estar longe de todos. De tudo. Apenas perto de ti, o meu porto de abrigo. A minha vida. Não me deixes, mãe. Não me deixes sem vida, a vida de que eu quero fugir. Deixa-me fugir em ti. Em qualquer lado, para qualquer lugar. Leva-me, a voar. Como o fizeste tantas vezes nos teus sussurros de protecção gravados nas minhas costas. Gravaste-me a alma e ela sofre com o que o corpo tenta apagar. Eu quero-me apagar, deste mundo de dor. Apaga-me, mãe. Por favor. Eu não consigo pensar, eu não consigo sentir. Apaga-me. Dá sentido à minha vida. A mim. A eles. Só tu podes me ajudar, como sempre o fizeste até quando eu não quis admitir. Eu não sei mais o que fazer com o que tenho dentro de mim, na dor que me persegue para onde quer que tente fugir. Ela está à espreita. Faz com que páre, mãe. Por favor... não tenho mais forças, nem para chorar.Mãe... eu quero morrer, mãe. Eu quero morrer.
2 - ... eu estou aqui, filho.

Thursday, October 4, 2007

Suspiro

1 - Posso sentar-me ao teu colo e dormir no teu ombro mesmo por baixo do teu cabelo? Posso? Prometes que não me fazes cócegas?
2 - Sim, prometo. Dou-te apenas pequenos beijos carinhosos nos teus lábios.
1 - Então eu agarro-me a ti ainda com mais força... se parares de respirar bate com mão no chão para eu saber. (risos)
2 - Não faz mal. Respiro por ti.
1 - (Suspiro)

Sunday, September 30, 2007

A Possibilidade do Impossível

1 - Eu sei que não é fácil. Disse a mim mesmo que não queria nada assim por não ser fácil. Por uma vez na vida gostava que as coisas fossem fáceis. Eu poder gostar de alguém e alguém gostar de mim e não haver empecilhos de qualquer espécie. Achas que é pedir muito?
2 - Eu quero o mesmo. Eu preciso do mesmo.
1 - Achas que é por isso que nos apaixonámos um pelo o outro?
2 - Talvez. Uma maneira de dizermos ao universo que é possível sermos felizes, apesar de parecer impossível.
1 - É impossível, não é?
2 - É bastante difícil.... tu sabes disso...
1 - Eu sei... Mas mesmo assim, apesar de todas as dificuldades na nossa vida, na minha e na tua e a apesar de todos os problemas que temos... isso não muda o facto de...
(silêncio)
2 - ... do quê...?
1 - De te adorar.

Monday, August 27, 2007

Doutoramente Em Fuckamento

1 - Já nao falava contigo há buérérés... ainda de férias não é?
2 - (risos) É um bocado isso. A fuckuldade so deve começar em outubro. E de qualquer das formas ainda não sairam os resultados.
1 - Ainda nao sabes para onde vais?
2 - Pá, saber acho q sei... estudos artisticos.
1 - Lx?
2 - Sim. Na flul... fuck de letras
1 - faculdade de letras ultramarinas do liechenstein?
2 - (risos) Isso, isso.
1 - O meu sonho é entrar para uma fuckuldade e ser doutorado em fuckamento avançado
2 - Chispê.Tens logo bules.
1 - Yá. Gigolo
2 - (risos)
1 - Eu gostava... tinha sexo e era pago. Agora assim...não tenho sexo e o pior!! Não sou pago...se não tivesse sexo e fosse pago para isso... agora sem sexo e sem pagamento... está mal!!
2 - (risos) Apoiado! Siga criar uma fundação.
1 - Qual seria o objectivo? É que pode-se tornar um pouco confuso, já que a temática é um pouco profunda e vasta. Por exemplo, o que é mais importante, sexo ou dinheiro?
2 - Ambos. Para já seria tipo uma boîte...
1 - E as pessoas pagavam para ter sexo ou para não ter? Do género, metiamos lá camafeus feios como a noite escura e as pessoas ou clientes com o susto até pagavam para se verem livres daquilo. Aí se calhar já tinha futuro no ramo... era a puta indesejada.
2 - (risos) A nunca escolhida.
1 - Exacto. Porque eu como gigolo ainda sou capaz de ser assim jeitoso... assim o típico Ze Camarinha de trazer por casa com tanguinha de leopardo morto à chapada... mas como puta sou aberrante!!

Monday, August 13, 2007

A Receita Do Casamento

1 - Queres-te casar comigo?
2 - (risos) Quero! (risos
1 - Tou a falar a sério!!
2 - Oh querido, eu ainda nem sou maior de idade... Só me posso casar aos 18 não é? Não sei dessas coisas...
1 - Hum... não sei...
2 - É provável...mas também só falta um mês e qualquer coisa.
1 - De qualquer maneira, podes te casar com a autorização dos teus pais. Achas que eles davam autorização de casares com um ranhoso como eu?
2 - Acho que eles não têm bem a ideia de me ver casada aos 18... querido... para que é que queres que eu case contigo?
1 - (risos) Acredito. Bem quero que te cases comigo porque tu és fofa, és linda e fofinha e pronto... é isso... tem que haver assim mais motivos?
2 - Tem... tens de gostar da pessoa... Só te casas por esses motivos?
1 - Não sei...nunca me casei... mas eu gosto da pessoa!
2 - (risos) Como é que te lembraste disso assim de repente?
1 - Pensei em ti e eu como sou todo anti-casamento, pensei: "olha ela era uma pessoa com quem casava"
2 - Oh que querido... eu por acaso não tenciono casar tão cedo.. se chegar a casar..
1 - É um bocado estranho...?
2 - Hmm.. repentinamente é...mas eu também tenho pensamentos repentinos.Mas fico honrada, a sério.
1 - Posso meter-me na lista de espera, uma lista do género de receber um rim ou assim...?
2 - Está bom, querido, um dia que eu me lembre de repente e pense "quero casar para a semana" eu vou à lista e tu estás lá nos primeiros, está bem?
1 - Sim, és um amor (sorriso)
2 - Ontem eu tive um pensamento repentino, mas eu tava descontrolada
1 - Então?
2 - Estava-me a rir por tudo e por nada e nao sei porquê... estávamos a falar de banhos e rastas... e eu comecei a formar uma imagem na minha cabeça do meu amigo a tomar banho com uma saca do continente
no cabelo... e com um elastico a segurar na testa. Só sei que comecei a chorar de rir sozinha.
1 - Bem, pode-se dizer que o casamento é o equivalente a tomar banho com uma saca do continente no cabelo e com um elástico a segurar na testa.

Friday, August 10, 2007

Diálogo em Monólogo

1- Quero-te.
2- O quê?!...
1- Desculpa-me mas quero-te. Hoje, agora, já.
2- Estás é maluco...
1- Não me chames maluco por ver loucura nos teus olhos.
2- Tu não a vês nos meus olhos, tu acompanha-la na minha carne.
1- Por isso mesmo, quero-te.
2- Assim? Agora chegamos ali, eu abro as pernas e tu fazes o serviço? Adormeces depois, já agora, para termos direito a serviço de quartos completo...
1- Não, não! Não é esse quero-te. Para fodas tenho eu qualquer uma. Não, tu és especial. Quero-te.
2- Pareces sim um disco riscado. Doente. Fetish nesse teu estado de demente.
1- Quero-te.
2- Pára. Que cansaço! Do teu “quero-te” “quero-te” “quero-te” desprovido de paixão, de am-
1- Amor tenho somente para ti, para te dar, para retirar do teu suor e do teu prazer, Amor é aquilo que eu te chamo, porque não te poderia dar outro nome.
2- ...
1- Quero-te.
2- O quê?!
1- Quero-te, como és, por quem és, toda e somente tu. Que se foda o mundo, que se foda a razão. Tu és. E isso chega-me.
2- Dizes-me louca quando te digo isso.
1- Antes não te via como te vejo agora.
2- Antes quando?
1- Antes de olhares para mim como olhaste agora.
2- Como é que olhei?
1- Como se eu fosse a única pessoa no mundo que te pudesse compreender...

[cai o pano, sela-se a conversa com um beijo e um abraço que duram a noite.]

Por Ana Filipa Nunes

Monday, July 23, 2007

Igual

1 - ...
2 - ...?
1 - Triste.
2 - O quê?
1 - Contigo.
2 - Hã?
1 - É pior do que dizer que estava gorda.
2 - O que é que é pior?
1 - Dizeres que estou igual.E que nao nem nem um puquinho mais atraente, nem um pouquinho mais interessante.
2 - Mas lembraste-te disso de repente?
1- Não. Tenho andado a pensar nisso non stop.
2 - Não vale a pena pensares nisso, não te leva a lado nenhum.
1 - Leva sim.
2 - Onde é que isso te vai levar então?
1 - Sei lá. Era uma satisfaçao pessoal.
2 - Pois... mas eu não posso mentir...
1 - Podes sim.
2 - E porque é que o iria fazer?
1 - Porque me faz bem. É terapêutico.
2 - E estares bem através de uma mentira é mesmo o que queres?
1 - Sim.
2 - Não sei se te quero dar isso
1 - Tens de dar.
2 - Tenho porquê?
1 - Esquece.
2 - E tu, esqueces?
1 - Não.
2 - Bem se já esqueceste uma vez porque te foste lembrar agora?
1 - Deixa estar.
2 - Ok.

Friday, July 6, 2007

O Outro Lado

1 - Epá, sinceramente já estou farto de te aturar. Onde quer que vá, encontro-te atrás de mim, por mais distante que me torne do mundo, de tudo e de todos, a tua sombra está sempre a tapar-me o sol que eu preciso. Porque é que não morres de uma vez?
2 - Nunca julguei que fosses criar tanta aversão à minha presença (presença essa que só está na tua cabeça, porque já não falávamos - e não falamos - há muito tempo)...
1 - É engraçado, não é? As voltas que o mundo dá. São como as promessas que me fizeste... (pausa) Ah, merda, eu disse a mim mesmo que nunca mais iria falar contigo, que iria apagar a importância que te tinha dado ou que tu fizeste com que te desse, porque é que eu me permito sempre em momentos de fraqueza a olhar para trás e a ver-te olhar para mim?
2 - Eu não sei. Não estou dentro da tua cabeça para ver isso. Aliás esse sempre foi o problema...
1- Vai-te foder! Escolheste mal o dia para te vires meter comigo.
2 - Tu é que vieste ter comigo... lembras-te? Embora eu não saiba porquê, mas foste tu que vieste ter comigo.
1 - ...
2 - Acho que irei ser sempre um espinho atravessado na tua garganta ou noutro sitio qualquer do teu corpo. Independentemente do sucesso ou insucesso que tenhas, vais acabar sempre por vir mexer no espinho. Já pensaste que se calhar és tu que não me deixas descansar? Que provavelmente és tu que me persegues com o teu rancor, com as tuas palavras dirigidas ao mundo mas que eu sei bem que são dirigidas a mim? Que a tua caneta é como uma adaga que me espetas de raiva no peito?
1- ...
2 - Já pensaste que isso é provavelmente algo que eu não quero sentir, principalmente vindo de ti...?
1 - (longo silêncio) Numa coisa tens razão.
2 - No quê?
1 - Não sei porque é que continuo a falar contigo.

Thursday, June 14, 2007

Seres A Martelo

1 - Há dias em que o sono me parece uma mão que me agarra e me puxa para uma qualquer superfície.

2 - Mas em termos de quê? Existência? Vives a dormir/dormes acordado?

1 - Temo que deixo de viver quando durmo. Como se todos os dias fossem uma nova vida. Não tomes isto como algo positivo, porque não o é. Procuro todos os dias a minha própria identidade. E todos os dias me conheço novamente.

2 - Vá lá, ainda te consegues conhecer... há quem esteja uma vida inteira para o conseguir. Quem és tu hoje?

1 - Alguém que tem fome de sair de si próprio. Droga. Psicadelismo. Noites quentes. Relento. Isso sou eu hoje.

2 - Tudo menos a realidade. Mas também hoje em dia fica cada vez fica mais difícil distinguir o real da fantasia. Nisso hoje sou diferente de ti, hoje vou andar cá por dentro a apreciar o mundo decadente que fui criando.

1 - Diverte-te. Eu vou-me divertir a negar-me o animal.

2 - Dificilmente será algo de divertido... a decadência é sempre a mesma. Se em todas as noites morresse para de manhã acordar decerto seria mais... entusiasmante... agora o animal ser negado, aí está algo que não se consegue todos os dias

1 - Por a decadência ser sempre a mesma, aprende-se a gozá-la. Acredita. O animal tem de ser negado todos os dias. Isto se te sentires na obrigação de te conseguir controlar.

2 - Este animal é então mais rebelde que os outros. Já esteve em vias de urinar nos cantos da casa, mas... é um animal mas obediente. Controlo próprio é uma praga tão grande como a besta em si.

1 - Mas pelo menos estás sempre um passo à frente de ti proprio. De qualquer das formas, esta foi a minha escolha. Não ta procuro incutir. No entanto, creio já ter sido tu. A minha escolha levou-me a um outro plano. Talvez te sentisses bem nele.

2 - Que plano era esse?

1 - Um plano de possível superioridade mas no qual o único objectivo é conheceres o teu interior e gostares dele. Um certo egocentrismo, mas "por uma boa causa". Pela tua própria... salvação? Talvez.

2 - Hum sim, já o estou a ver... (longo silêncio) Bah... acho que é mesmo de psicadelismo e drogas que precisamos.

1 - Nem mais. Para escapar momentaneamente à pressão de ser.

2 - Ou isso ou uma marretada no ser. Mas também já há aí tantos seres a martelo que o mundo não precisa de mais dois.

1 - Nem mais. (Silêncio) Bah estou cansado e dormi a noite toda. Lá está. É a dor de me procurar.

2 - Nem á noite o raio do ser deixa de ser

1 - Só no ser em si.

2 - Acho que nem aí. Talvez o seja sem o deixar aperceber.

1 - Eu deixo de ser. Cada vez mais nisso acredito.

2 - E no ser tens crença?

1 - No meu ser?

2 - Sim e no que o teu ser partilha com o ser em geral

1 - Tocaste no ponto. Em mim, teria crença não fosse eu mais um.

2 - Mas todos nós somos mais que um (ou dois). Quer dizer é por isso que eu penso que nos damos bem e nos continuamos a encontrar, tarde ou dia, noite ou madrugada, para falarmos destes assuntos com ou mais profundidade. Se fossemos só um (ou dois) dificilmente teríamos assunto para mais que um encontro.

1 - Já senti isso. Mas agora temo-me achar menos que um. Como se a minha procura me desagregasse. Como se a minha necessidade de me conhecer fosse a razão do meu auto-desconhecimento.

2 - Estou a sentir-me extremamente filosófico. Estás preparado?

1 - Como estarei preparado para algo teu se nem para o ar que acabou de sair de mim estou preparado? (silêncio) Bom, diz.

2 - Eu sei que pode soar algo familiar, mas espero que tenhas em conta que hoje em dia é muito difícil ser-se original.

1 - O que é que queres dizer com isso? Ou melhor, onde queres chegar?

2 - Então, quero dizer que o bocado de filosofia que raramente sai de mim, pode soar-te de alguma maneira menos verdadeiro por ser algo de forma... digamos conhecida.

1 - Não te entendo. Mas, antes de mais, porque te auto-rebaixas? Há quem se queixe que segundos e terceiros o fazem sofrer. Estás a cortar caminho?...

2 - Não me estou a auto-rebaixar... só estou a dizer que aquilo que vou dizer pode soar familiar. E SIM, ainda não o disse. (risos)

1 – Ah! Oferece-me um pouco de paciência, quando puderes. Prossegue, então. Eu entender-te-ei como se de Descartes se tratasse.

2 - Paciência fosse eu caro companheiro desta filosofia que é a vida. Não é bem Descartes, é mais para os lados da Grécia... mas ignora isso que não interessa nada. Preparado? (longo silêncio) Aqui vai...

"Eu penso, logo... desconheço-me"

(longo silêncio)


- Sérgio Ribeiro e Fernando Ferreira -