Thursday, June 9, 2016

Caminhos

1-Já te disse, faz isso.
2-E eu já te disse, não consigo.
1-Não estás a tentar fazer o suficiente.
2-Porra, ainda mais?! O que é que queres que faça mais?!
1-Que consigas e deixes de apenas tentar.
2-Ouve lá meu menino, já que estás aí cheio de caganças... conta-me lá. E tu?
1-Eu o quê?
2-Já estás no topo da cadeia alimentar? Já tens tudo o que queres? Já és feliz.
1-Bem... não posso dizer que tenha conseguido...
2-Então o que é que aconteceu?
1-As coisas não têm corrido...
2-As coisas, não é? As coisas... O que é que me disseste acerca das..."coisas"? Que não existem, não é? Que só estamos mal porque escolhemos estar, que porque é que me chateias se nem tu consegues fazer aquilo que queres que faça.
1-Não é bem assim. O que eu digo para fazeres é para mudares a tua forma de pensar para que consigas iniciar o teu caminho, tal como eu o fiz.
2-Mas volto a insistir, resultou para ti?
1-Sim, a minha vida mudou. Ainda não consegui aquilo que queria, mas a vida mudou.
2-E quem te diz a ti que a minha vida tem que mudar da mesma forma que a tua? Porque é que aquilo que resultou para ti... peço desculpa, porque é que aquilo que ainda NÃO resultou para ti tem que resultar para mim? Será que não é um sinal que não é por aqui? Será que o facto de tu ainda não teres chegado onde queres um sinal que se calhar aquilo que tu queres não é, afinal, aquilo que tu precisas?
1-...é possível...
2-Então, pronto... não há necessidade de me chateares a cornadura com isso, ok?

(silêncio)

1-Mas ainda acho que devias mudar a tua forma de pensar.
2-F$#%&%&$!

Monday, January 11, 2016

Visões de Um Futuro Que Não Vai Acontecer

1-O que é que tu tens? Estás com uma cara...
2-Abraça-me. Abraça-me apenas.
1-O que é que se passa? Estou a começar a ficar assustada.
2-Não, não é caso para tanto.
1-Então se não é caso para tanto é porque algo se passou.

(longo silêncio no meio de muitos suspiros e falsos começos)

2-Sabes aquela minha mania que tenho de sonhar acordado?
1-Sim...
2-Pois, hoje aconteceu outra vez. Vinha a sair do trabalho e vi-te a morrer.
1-Credo!
2-Quer dizer, não propriamente a morrer, mas o momento em que soube que tinhas morrido. Sei o que vais dizer, que é estúpido este tipo de pensamentos, que tenho de combatê-los e foi o que fiz, mas quando mais o fazia, mais ele se enrolava nos meus membros, mais me prendia. Em poucos segundos, soube que tinhas morrido durante o parto do nosso filho e vi-me com ele ao colo, a lutar contra a dor e a raiva mas ao mesmo tempo feliz por estar parte de ti, parte de nós nas minhas mãos. Tentei não imaginar a chorar nos braços dos teus pais, a tentar ser forte perante os meus, a isolar-me de todo o mundo e dedicar a minha vida por completo aquela criança. Vi-me a sair desta casa por não conseguir aguentar mais a tua presença em tudo aquilo que via e sentia e não te conseguir encontrar. Vi tudo como se me estivesse a acontecer naquele momento e quando finalmente consegui afastar todas aquelas imagens, uma emoção enorme tomou conta de mim, não conseguindo conter as minhas lágrimas enquanto punha o carro a trabalhar. Confesso que foi parte por auto-compaixão. Era um grande vício meu no passado que ainda não desapareceu. Mas não foi o principal motivo. O principal motivo foi ter sentido o peso e a importância que tens na minha vida e como te amo. Não é a questão da companhia, do companheirismo que temos e de ser dramático para retirar daí algum prazer mórbido. É viver a realidade de algo que não quer nunca viver, um mundo sem ti e ter a percepção de que muito mais do que qualquer necessidade física ou emotiva, amo-te como nunca amei ninguém. Não quero viver num mundo onde poderás sair da minha vida sem que eu te diga o que sinto e penso...
1-Tolo! Mas eu sei, não precisas de...
2-Eu sei que sabes, mas deixa-me acabar. Quero dizer-te aquilo para o qual não tenho palavras algumas. Quero dizer-te que aconteça o que acontecer, eu vou amar-te de todo o meu coração e que não vou esperar para que tu desapareças para que diga isso para uma parede com as lágrimas nos olhos. Prefiro dizer-te agora, para veres as minhas palavras as cair-me pela cara abaixo e a molhar-te os pés. Amo-te, meu amor, gostava que te visses aos meus olhos e que sentisses aquilo que eu sinto. Toda a minha vida andei à procura de sentir um verdadeiro amor, mas aquilo que sinto desde que te conheço, apesar das dificuldades todas que temos, é que dificilmente sonharia ser tão feliz como sou contigo. Dificilmente seria tão eu, tão completo como aquilo que tu fomentas que seja. Dificilmente encontraria alguém a quem quisesse passar o resto da minha vida ao lado. Alguém por quem eu daria a minha vida, alguém por quem eu morreria, mas sobretudo, alguém com quem eu quero viver. Alguém com quem eu vou viver. Sempre.

Monday, September 7, 2015

Conversa

1-Dizem que falar contigo é como se fosse uma conversa e não apenas um monólogo. Já tive a arrogância de pensar e dizer que era apenas um sinal de loucura ou de desespero. Ou de ambos. Não sou do tipo religioso, o que provavelmente quererá dizer que ou estou louco ou desesperado. Ou ambos. Talvez esteja. Talvez esteja farto de colocar questões a mim próprio, questões para as quais continuo sem resposta. Questões como, porque é que estou aqui? Porque é que continuo aqui, sem cumprir todas as promessas que o mundo me fez e que eu fiz ao mundo sem saber propriamente quem é o primeiro a estar em falta... Gostava de avançar, avançar sem medo... mas o medo, o medo é uma coisa que me assiste. Deveras assiste. Então pergunto-te a ti... porque é que não avanço? Será que é necessário ter atrás de mim algo catastrófico que me obrigue a dar o passo em frente? Não, não quero fugir. Estou farto de fugir mesmo quando fugir significa ficar muito bem sossegadinho no meu cantinho à espera que me venham salvar. Não sou uma princesa, porque raio me viriam salvar e mesmo que fosse uma princesa, provavelmente teria que me prostituir porque ninguém é generoso a troco de nada. Quando damos esperamos logo a recompensa e se a recompensa não for compensatória o suficiente, bem... então é melhor nem nos darmos ao trabalho. É este tipo de pensamento e filosofia que me faz pensar, interrogar, questionar até à exaustão tudo o que surge à frente e tudo o que não surge mas poderia surgir. Que me faz questionar se, caso, algo ou alguém, me quisesse salvar desta prisão, será que esse alguém não iria cobrar um preço que eu não quereria pagar? Não estaria eu a trocar uma prisão por outra pior? Como vou saber? Não gosto de apostas, não gosto do risco. Não gosto da potencialidade de perder o meu tempo e energia. Mas também... não será perder o meu tempo a falar contigo que não sei se me ouves? Por outro lado, também é seguro perguntar-te o quer que seja porque nunca me vais dar a resposta que eu não quero ouvir. Vês? Até nas minhas questões internas eu sou avesso a arriscar e até nas minhas questões internas eu estou em conflito. Espero que estejas bem onde quer que estejas e que não te aborreças em demasia com todas estas minhas questões. Se calhar até te diverte... antes assim, pelo menos não será perda de tempo. Eu só... até tenho receio de pedir o que quero, mesmo que seja para alguém que não tenho a certeza que existe. Eu só... (diz) ...se fosse possível... (diz de uma vez, sem medos) ...gostava de... (diz, diz, diz, pede o que queres e será teu, sê ousado, pede, sonha e pede, ainda não pagas por isso, não tenhas medo do que dizem, não tenhas medo do que pensam, apenas tu te podes compreender, apenas tu te podes censurar, não te censures, nunca, nunca faças isso, diz, fala, grita, sussurra, mas não guardes para ti, não outra vez, não mais uma vez. Diz, por favor diz)...

Eu só gostava de voar. É possível?

(Tudo é possível).

Sunday, April 5, 2015

(in)Decisões

1-Não sei o que faça com a minha vida. Tenho vontade de me despedir mas por outro lado tenho medo do que possa acontecer, de que me arrependa dessa decisão.
2-Ninguém pode tomar essa decisão por ti...
1-Eu sei... mas se eu me despedisse, não ia ser justo para ti, ia cair tudo em cima dos teus ombros.
2-Nós arranjaríamos uma forma, não te preocupes. Quanto mais te preocupas com coisas que ainda não aconteceram, mais caminhas para que elas aconteçam mesmo.
1-Eu nunca poderia fazer isso. Nunca poderia fugir - porque é uma fuga - e deixar-te para trás para arcares com as responsabilidades das minhas acções.
2-Não é um fardo. É a nossa vida e aquilo que decidirmos, estaremos cá para nos apoiarmos mutuamente. Foi o que sempre dissemos e fizemos.
1-Eu sei mas...
2-Mas é algo que serve para mim mas não para ti?
1-Mais ou menos...
2-Isso é parvo.
1-Eu sei mas não deixo de sentir sentimentos de culpa, pronto. Já o disse. Gostava de não colocar qualquer tipo de peso sobre ti.
2-E não colocas, colocas sobre nós. E se for por uma decisão que tens que tomar, é assim que terá de ser.
1-O problema é que não sei que decisão tomar. Por um lado temos o que temos e apesar de tudo, é seguro e confortável. Por outro, não me sinto realizado, sinto-me a definhar cá por dentro.
2-Vê o que é melhor para ti... e decide.
1-Não me digas isso! Não preciso que alguém me diga que vai estar comigo numa má decisão. Prefiro que alguém me diga qual a boa decisão.
2-Despede-te. E diz a ti próprio que fui eu que decidi por ser  a boa decisão.
1-Não ia ser capaz de colocar uma responsabilidade dessas em cima de ti...
2-...

Thursday, January 1, 2015

Surto

(A ver o noticiário)

1-A cena da legionella anda aí terrível...
2-Podes crer, já uma série deles que quinaram
1-Bem que o surto podia ir lá para o parlamento, encher a barriga.
2-Aí o surto não entra, só o furto.

Tuesday, October 21, 2014

Silêncio Interior

1-Certos momentos falo comigo e tenho uma série de vozes a responder...
2-(interrompendo)-Pois é, vozes irritantes, que não ajudam nada!
3-Apenas acrescentam o óbvio e reforçam a ideia...
4-E por vezes a ideia nem é positiva para que seja reforçada.
5-Por vezes, até surgem com outras coisas que não têm nada a ver.
2-É verdade.
6-É mesmo, faz-me lembrar um filme que vi ontem.
7-A sério? A mim faz-me lembrar uma música...
5-A música é um inimigo a tudo isto que estamos a falar.
8-O que é que estamos a falar?
5-Estamos a falar do...
6-do...
3-coiso.
9-Isso, do coiso.
10-Do coiso? Qual coiso?
2-Daqueles que falam.
11-Quem é que fala?
8-Então, mas não era da música?
5-Tenho ideia de que não...mas também não quero ateimar.
12-Mas o que é que tem a música?
5-A música não deixa concentrar.
13-O problema não é a música.
6-Não?
14-Qual é o problema então?
13-O problema é a falta de foco.
5-Mas se te concentrares na música, como podes focar no quer que seja.
13-Ouves alguma coisa agora?
5-Como assim?
14-Ele está a perguntar se ouves agora alguma música.
5-Não, mas agora também não me quero focar.
13-Não queres? E o que é o querer?
5-Não percebo nada do que estás a dizer, pá!
13-Quem és tu que quer?
5-Quem sou eu?
13-Sim.
5-Eu sou como tu. Eu sou cor, eu sou pensamento, eu sou ar, eu sou imaginação.
14-Tu és tudo.
15-Tudo o que quiseres ser, mas o que és não podes ser só.
13-O que és não podes ser só.
14-És uma peça do todo.
15-És o tudo, sendo apenas uma parte. O foco não está em ti.
13-O foco não deveria estar em ti.
14-O foco não deve estar numa parte.
13-Deve estar no todo. No todo.
2-Isto tudo porque estávamos a falar de música, não era?
13-Não. Estávamos a falar de silêncio.
1-...

Friday, August 15, 2014

Chouriço

1-Está aqui um cheiro estranho… não se despejou o caixote de lixo outra vez.
2-A mim cheira-me a chouriço.
1-Chouriço?
2-Sim…

1-Deve ser é Shó-lixo…