Saturday, March 1, 2008

Porque Não Falamos Mais

1-Porque é que não falamos mais?
2-Porque não temos nada a dizer acho eu...?
1-Não achas isso triste?
2-Tu achas?
1-Perguntei-te primeiro...
2-(Suspiro resignado) Sim, mas tento não pensar muito nisso.
1-Claro, como tudo o que te incomoda.
2-Olha quem fala...
1-Tu disseste-me todas aquelas coisas, tentaste confundir-me com algo que já tinha morrido há muito tempo e depois, aposto, ficaste à espera que eu viesse a correr atrás de ti como fiz no passado.
2-O que é que tu queres de mim? Que te diga que tens razão? Que não consigo falar contigo?Ok, tens razão. Não consigo falar contigo. Não consigo ter-te próxima. Só assim consegui continuar. Não foi o que fizeste também? Sem olhar para trás? Porque não posso eu fazer também o mesmo?
1-Eu não fugi, embora tu aches que é só o que eu faço.
2-Não adianta falar do passado. A vida continua, nós hoje somos os dois duas pessoas muito diferentes do que éramos. E aposto que tu nem sequer consegues entender o passado, nem olhas para ele. Só deves pensar que aquela pessoa não eras tu. Era outra. Assim é mais fácil suportar o que fizeste.
1-Porque é que pensas sempre por mim?
2-Não vamos falar de ideias pré-concebidas pois não? É porque se vamos há muito a ser dito, principalmente sobre ti.
1-Então vamos a isso. Aproveita agora.
2-Esquece.
1-Esquece. É o que dizes mais vezes quando não te queres chatear. Pois eu acho que devias te chatear mais vezes se realmente é o que sentes.
2-Poupa-me os sermões sobre sentimentos, por favor, sim? (silêncio) Aliás, poupa-me todos os sermões, todas essas filosofias baratas e idiotas de criança mimada e fútil. Queres saber porque é não falamos mais? Porque eu não te suporto! Não suporto o que te tornaste, não suporto como me fazes sentir. Como é que eu pude gostar de alguém assim? Alguém tão fútil. Sabes a última vez que estivemos juntos? Perguntei-te se tinhas algo a dizer-me porque seria a última vez que estaríamos juntos e tu protestaste infantilmente como se eu tivesse acabado de dizer que a vida não era perfeita e de que não iríamos ser todos amiguinhos para o resto da eternidade. Essa tua infantilidade revolta-me, essa capacidade de a elevares a vida às nuvens e conseguires viver lá dá-me asco. É um veneno! E cada vez que penso em ti só me lembro dessa reacção infantil, estupidamente ingénua. Como eu fui idiota. Como eu fui idiota. Desejava não te ter conhecido, que fosses uma ilusão qualquer. E é assim que te trato. És um holograma que aparece de vez em quando e que já não tem pilhas suficientes para se manter ligado. Não, eu não vou falar contigo. Não vou ser eu a trocar as pilhas e a prolongar o meu sofrimento. Vive a tua vida e esquece que eu existo. Se esqueceste tão bem que existia anos atrás, também não deve ser difícil esqueceres que existo no presente. Mata-me na tua mente e finge que choras para te sentires melhor contigo própria. E deixa-me em paz.

(Silêncio)

1-E agora, não te sentes melhor por teres desabafado?
2-Não.