Wednesday, March 4, 2009

Facilidades

1 - Bom dia, em que o posso ajudar?
2 - Bom dia, o meu nome é Fernando Ferreira e eu tenho andado em conversações com vocês por e-mail, acerca da renegociação do contrato de um empréstimo que fiz para a compra de uma carrinha...
1 - Hum, hum...
2 - ... e disseram-me que teria que solicitar num dos vossos balcões uns impressos que teria de preencher para que eles sejam apreciados.
1 - Sim, são estes os impressos de renegociação de contrato. Tem que pagar uma franquia de 30 euros para que o processo seja aceite.
2 - Portanto, basta apenas preencher estes impressos, pagar os 30 euros, que fico com o problema resolvido, certo?
1 - Exacto.
2 - Ok, obrigado. Bom dia.
1 - Bom dia.

2 semanas depois

1 - Bom dia.
2 - Bom dia. O meu nome é Fernando Ferreira, não sei se recorda de mim, estive cá a semana passada, por causa de uma renegociação de contrato...
1- Ah, sim, Sr. Ferreira. Então e em que é que o posso ajudar?
2 - Bem, eu estou um pouco confuso. Estive cá a semana passada porque me disseram que tinha que preencher uns impressos e pagar para que o meu caso fosse atendido. Ontem recebo um mail vosso em que dizem que o meu pedido foi diferido. Peço desculpa mas parece que andam a brincar comigo.
1 - Não lhe foi dito que o processo seria aceite, seria posto à apreciação e poderia ser aprovado ou não.
2 -O que me deram a entender foi que para que pudesse renegociar a prestação, teria que fazer todos aqueles passos.
1 - Provavelmente, percebeu...
2 - Quer dizer, tive que perder um dia de trabalho para, basicamente, vos dar trinta euros, que vocês devem de andar com dificuldades com esta crise toda. São é uma cambada de chulos é que são todos!
1 - Não é necessário levantar a voz nem ser mal-educado.
2 - O que quer que faça? Como quer que me sinta ou reaja? Ponha-se no meu lugar. A senhora compra uma carrinha porque precisa dessa ferramenta de trabalho. Recorre a vários bancos até que um lhe oferece todas as condições e todas as facilidades. O negócio no qual investe não dá o retorno esperado e tem que fechar a empresa. Fica com uma prestação de 400 euros que não a consegue sustentar. Recorre ao seu banco, desabafa dos seus problemas e a única resposta que encontra são negativas infléxiveis. Onde havia antes apenas facilidades, agora só existem dificuldades. Uma dessas facilidades seria o decréscimo da taxa de juro e consequente baixa da prestação, facilidade que começo a achar nada mais do que um logro, já que a taxa de juro apenas subiu, inclusivé quando deveria de descer. Por mais que tente refazer a sua vida, a única coisa que encontra são ordenados mínimos nacionais. Mesmo com o ordenado da minha mulher mal conseguimos sobreviver porque vai tudo para a carrinha e para a casa. Temos de estar a depender da caridade dos nossos vizinhos e pais. Tenta manter um espírito positivo, tenta encontrar soluções, tais como vender a carrinha, mas o seu banco, aquele das facilidades nega-lhe a hipótese de vender a carrinha pelo o dinheiro que falta pagar, tem que ser vendida pela totalidade do contrato. Quem é que vai querer comprar uma carrinha usada por 22 mil euros?! Tenta não pensar nisso, mas os telefonemas constantes do banco que lhe tinha prometido todas as facilidades, a pressionarem para pagar a prestação do mês currente simplesmente não o deixam. Diz todas as vezes que não tem dinheiro, que da parte do banco não lhe querem resolver o problema, porque a senhora simplesmente não consegue pagar! A resposta é sempre a mesma: "Compreendemos mas tem que pagar". Tenta encontrar outras soluções, mais que não seja mudar o seguro para um mais barato, mas o seu banco, aquele das facilidades, diz que não é possível mudar o seguro. evocando umas baboseiras jurídicas que ninguém percebe, que não é mais do que areia para os olhos das pessoas. O que se pode concluir é que não é possível mudar porra nenhuma até que esteja tudo pago. Você insiste, insiste, insiste, até que alguém se descai e diz que pode renegociar o contrato. Pagando! Depois de escolher o que não vai comprar para comer, paga o que lhe pedem para que lhe resolvam o problema. E no final desta merda toda... fecham-lhe as portas mais uma vez. Agora diga-me, como é que se sentiria? Diga-me sinceramente.
1 - Provavelmente, como o senhor se sente agora.
2 - Obrigado, era só isso que eu precisava de ouvir. Bom dia.