1-Como estás?
2-Cansado. E tu?
1-Não sei bem. Quando chego aqui ao quarto, fico confusa.
2-Então?
1-Dor no coração. é muito menos que antes... cresci muito nestes últimos tempos mas mesmo assim...
2-Mesmo assim doi.
1-Sim, mesmo assim doi. (silêncio) Acho que mereço alguém que não existe, sabes?
2-Mereces ou queres?
1-Mereço. O que quero, não sei muito bem o que é. Queria que fosse mais fácil
2-É natural...
1-Sinto-me estúpida. Estar apaixonado faz-nos estúpidos.
2-Quem me dera ficar estúpido.
1-Haaa, nao digas isso. Só me apaixonei assim antes uma vez, esta é a segunda.
2-Eu nunca me apaixonei assim.
1-Sorte a tua... Faz bem por um lado... para me dar conta de um monte de coisas.
2-Como por exemplo?
1-Por exemplo, que nunca amei o meu ex-namorado. Nunca gostei dele de verdade, não tinha nada a ver com amor. De que somos capazes de sentir coisas tão lindas, fazer coisas fantásticas, só que agora as damos a alguém.
2-Vá lá... não estou mal de todo.
1-Entao?
2-Apercebi-me disso, de nunca ter amado, sem me apaixonar por alguém.
1-Muito bom.
2-Podia ser melhor...
1-Como deste conta disso?
2-Pelo vazio dentro de mim. Tudo o que senti pela minha ex-namorada não era amor a partir do momento em que só me deixou rancor, mágoa, tristeza. Era algo bonito, talvez... não sei, já foi há tanto tempo que já não me recordo. Podia ser algo bonito mas não era amor. Não sei o que é o amor, mas aquilo não o foi de certeza.
1-Eu acho que estou muito mais perto do que é o amor para mim. Não sei o que é o amor para os outros, tenho trabalhado por um conceito meu, que seja verdade para mim.
2-E é esse é que interessa.
1-Para mim, amor é o que sentimos por um irmão mais pequeno que protegemos de tudo e só queremos bem, é liberdade, carinho e quando se trata de amor de um casal acho que será muito assim, um carinho infinito dos dois lados, sem rancor, sem medo, sem esperança, saber ver a outra parte como ela é.
2-Concordo. A ser, deverá ser algo próximo disso.
1-Falta-me deixar ainda mais o apego. Vejo muita transformação em mim mas ainda há tanto que quero mudar. Estou a ficar velha à minha procura, à procura de paz, de conceitos, de verdades.
2-Os teus conceitos e as tuas verdades, certo?
1-Sim. Ninguém sabe, mas apetece-me desistir a cada dia.
2-O que é que te impede?
1-De desistir?
2-Sim.
1-São segundos, logo vem muita força. As pessoas que acreditam tanto em mim, que me vêem como um exemplo. A minha família, a minha vida, tudo o que terei pela frente, ainda virão muitas alegrias. Sou eu mesmo, a vida, nao sei, sao mesmo uns segundos em que me dá preguiça.
2-O que é que te faz desistir?
1-Faz parte de mim e acho que do ser humano. É fácil acomodarmo-nos, queixarmo.nos, ver o negativo e deixar tudo como está.
2-Sim.
1-Difícil é levantar a cabeça a cada dia, convencer-me que sou linda e brilhante, que posso fazer tudo o que sonho apesar da minha condição, da minha idade, de todas as faltas, de todos os medos. Era mais fácil um marido, uma casa, um carro, um cão, um jardim, um bebé. (Risos)
2-Sim, é verdade. É difícil remares contra a maré quando sentes que és a única que o fazes. Em termos de atitude pelo menos.
1-Isso não me importa muito, sabes? Senão, tambem não m sentia tão importante, o que eu faço é só usar o que tenho de bom e mostrar aos outros que isso é o que tem de ser feito. O que custa em relação aos outros é a quantidade de gente que não me vê.
2-E é importante mostrares aos outros?
1-Vê-los sorrir depois de falarmos um pouco ou verem-me fazer algo e dizerem-me que lhes dei força, mudei a maneira de verem a vida? É muito importante, sim.
2-Já me esqueci como essa sensação sabe bem...
1-É mesmo. E às vezes é so um olhar, ter um pouco de paciência para ver o outro.
2-Sim, paciência...(Silêncio) Esta sensação é estranha.
1-Que sensação?
2-A sensação de que certas coisas não acontecem, definitivamente, por acaso. E por vezes bastam pequenas coisas para nos fazer abrir os olhos que, teimosamente, insistimos em manter fechados. Engolir o falso orgulho e admitir, nem que seja perante uma só pessoa.
1-Admitir o quê?
(Longo silêncio)
2-Que estou a matar-me a mim próprio. Que estou doente. E que nenhum médico me pode ajudar, ninguém me pode curar a alma. A não ser eu próprio.
2-Cansado. E tu?
1-Não sei bem. Quando chego aqui ao quarto, fico confusa.
2-Então?
1-Dor no coração. é muito menos que antes... cresci muito nestes últimos tempos mas mesmo assim...
2-Mesmo assim doi.
1-Sim, mesmo assim doi. (silêncio) Acho que mereço alguém que não existe, sabes?
2-Mereces ou queres?
1-Mereço. O que quero, não sei muito bem o que é. Queria que fosse mais fácil
2-É natural...
1-Sinto-me estúpida. Estar apaixonado faz-nos estúpidos.
2-Quem me dera ficar estúpido.
1-Haaa, nao digas isso. Só me apaixonei assim antes uma vez, esta é a segunda.
2-Eu nunca me apaixonei assim.
1-Sorte a tua... Faz bem por um lado... para me dar conta de um monte de coisas.
2-Como por exemplo?
1-Por exemplo, que nunca amei o meu ex-namorado. Nunca gostei dele de verdade, não tinha nada a ver com amor. De que somos capazes de sentir coisas tão lindas, fazer coisas fantásticas, só que agora as damos a alguém.
2-Vá lá... não estou mal de todo.
1-Entao?
2-Apercebi-me disso, de nunca ter amado, sem me apaixonar por alguém.
1-Muito bom.
2-Podia ser melhor...
1-Como deste conta disso?
2-Pelo vazio dentro de mim. Tudo o que senti pela minha ex-namorada não era amor a partir do momento em que só me deixou rancor, mágoa, tristeza. Era algo bonito, talvez... não sei, já foi há tanto tempo que já não me recordo. Podia ser algo bonito mas não era amor. Não sei o que é o amor, mas aquilo não o foi de certeza.
1-Eu acho que estou muito mais perto do que é o amor para mim. Não sei o que é o amor para os outros, tenho trabalhado por um conceito meu, que seja verdade para mim.
2-E é esse é que interessa.
1-Para mim, amor é o que sentimos por um irmão mais pequeno que protegemos de tudo e só queremos bem, é liberdade, carinho e quando se trata de amor de um casal acho que será muito assim, um carinho infinito dos dois lados, sem rancor, sem medo, sem esperança, saber ver a outra parte como ela é.
2-Concordo. A ser, deverá ser algo próximo disso.
1-Falta-me deixar ainda mais o apego. Vejo muita transformação em mim mas ainda há tanto que quero mudar. Estou a ficar velha à minha procura, à procura de paz, de conceitos, de verdades.
2-Os teus conceitos e as tuas verdades, certo?
1-Sim. Ninguém sabe, mas apetece-me desistir a cada dia.
2-O que é que te impede?
1-De desistir?
2-Sim.
1-São segundos, logo vem muita força. As pessoas que acreditam tanto em mim, que me vêem como um exemplo. A minha família, a minha vida, tudo o que terei pela frente, ainda virão muitas alegrias. Sou eu mesmo, a vida, nao sei, sao mesmo uns segundos em que me dá preguiça.
2-O que é que te faz desistir?
1-Faz parte de mim e acho que do ser humano. É fácil acomodarmo-nos, queixarmo.nos, ver o negativo e deixar tudo como está.
2-Sim.
1-Difícil é levantar a cabeça a cada dia, convencer-me que sou linda e brilhante, que posso fazer tudo o que sonho apesar da minha condição, da minha idade, de todas as faltas, de todos os medos. Era mais fácil um marido, uma casa, um carro, um cão, um jardim, um bebé. (Risos)
2-Sim, é verdade. É difícil remares contra a maré quando sentes que és a única que o fazes. Em termos de atitude pelo menos.
1-Isso não me importa muito, sabes? Senão, tambem não m sentia tão importante, o que eu faço é só usar o que tenho de bom e mostrar aos outros que isso é o que tem de ser feito. O que custa em relação aos outros é a quantidade de gente que não me vê.
2-E é importante mostrares aos outros?
1-Vê-los sorrir depois de falarmos um pouco ou verem-me fazer algo e dizerem-me que lhes dei força, mudei a maneira de verem a vida? É muito importante, sim.
2-Já me esqueci como essa sensação sabe bem...
1-É mesmo. E às vezes é so um olhar, ter um pouco de paciência para ver o outro.
2-Sim, paciência...(Silêncio) Esta sensação é estranha.
1-Que sensação?
2-A sensação de que certas coisas não acontecem, definitivamente, por acaso. E por vezes bastam pequenas coisas para nos fazer abrir os olhos que, teimosamente, insistimos em manter fechados. Engolir o falso orgulho e admitir, nem que seja perante uma só pessoa.
1-Admitir o quê?
(Longo silêncio)
2-Que estou a matar-me a mim próprio. Que estou doente. E que nenhum médico me pode ajudar, ninguém me pode curar a alma. A não ser eu próprio.
